18º Encontro das Pequenas Comunidades Eclesiais

 

 

                Nos últimos dias 05 e 06 de outubro, aconteceu na Paróquia São Pedro Apóstolo, em São Pedro do Sul, o 18º  Encontro Arquidiocesano de Ceb’s, com uma significativa participação. Mais de 900 lideranças de diversas comunidades partilharam a experiência de fé e de missão, tendo presente o grande tema do encontro: A justiça e a profecia a serviço da vida.

                No sábado pela manhã, tivemos a abertura oficial, com algumas manifestações de lideranças locais e arquidiocesanas. Na sequência o trem das Ceb’s, uma simbologia característica dos encontros, com um abençoado jeito de fazer memória da caminhada. A celebração de abertura deu um grande destaque aos mártires, testemunhos abençoados de um Evangelho encarnado na vida de um povo pobre, necessitado de vida, fruto da justiça e da profecia. Ainda pela manhã, as áreas pastorais, sintonizadas com a temática do encontro, partilharam as suas realidades, apresentando sinais de vida, de esperança e ao mesmo tempo desafios, sinais de morte que ainda se fazem presentes na vida. Nesta partilha foi comtemplado o mundo da juventude, das comunidades, da saúde, da terra, da ecologia e o mundo do trabalho e a organização politica. Ambientes a serem iluminados e transformados pelo Evangelho, tendo presente o compromisso, o cuidado para com a vida.

                Pela parte da tarde, o religioso, Frei Flávio Guerra, aprofundou a temática do encontro, beneficiando-se da iluminação bíblica. Como vemos aí a justiça e a profecia a serviço da vida? Segundo o religioso, no Antigo Testamento, temos alguns elementos importantes: A referência a Deus como Criador, realidade que mantem a nossa vida, a vida da criação; Um Deus libertador: conduziu o povo para a terra onde corre leite e mel. A presença de um Deus que ouve, sensibiliza-se e liberta, num processo de fé e de organização; A presença da Aliança: “ Eu serei o vosso Deus e vocês serão o meu povo”. A quebra da Aliança gera afastamento, um caminho de injustiças. O desafio é criar relações de justiça, cuidando do fraco (na figura da viúva, do pobre e do estrangeiro). A bíblia fala na retidão, no justo julgamento. Está aí a realidade daquele que age de forma correta. A sociedade só é justa quando respeita o outro, a sua dignidade. Neste contexto, os profetas tem um papel importante. São chamados, comunicam um Projeto de Vida, ajudam o povo a abrir os olhos, anunciam, denunciam, apontando caminhos. São homens e mulheres de Deus, comprometidos com a justiça, a profecia, no cuidado da vida.

            No Novo Testamento, Jesus segue o caminho do Antigo. Veio construir o Reino de Deus, um Reino de Justiça. A reta ação de Jesus: cura os doentes, valoriza a mulher, perdoa os pecadores e acolhe o estrangeiro. A justiça passa pela acolhida, o cuidado do outro. Assim, a justiça é uma forma de amor ao próximo. Jesus também denuncia a prática da hipocrisia, que gera sempre mais situações de injustiças, de exclusões.

           A Igreja se preocupa com a defesa da vida, da dignidade humana. Todos tem direito à saúde, ao trabalho, à moradia, ao salário. A justiça social passa pela reforma das instituições, das estruturas, a distribuição da renda de forma igualitária. Também pelo exercício da cidadania, principalmente na atuação, participação nos municípios, via conselhos. O frei Flávio ainda acentuou a questão do consumismo, estimulado diariamente, criando um regime de escravidões, formando maus hábitos, descompromissado com o futuro. Não podemos esquecer que a justiça social está intimamente ligada ao bem comum, o bem de todos.

         Neste contexto de reflexão, se reforça a importância da formação das nossas lideranças, o aprofundamento da reflexão bíblica, teológica. Estuda-se teologia para melhorar o mundo.

        No domingo, o Pe. Jair de Bairros Gomes, com Mestrado em Teologia Espiritual, trabalhou a espiritualidade presente nas pequenas Comunidades Eclesiais. Inicialmente, acentuou a importância de respeitar a ação do Espírito do Senhor, que sempre nos surpreende. No ambiente existe sempre: um modo de viver o Evangelho (a experiência); um contexto histórico (uma realidade muito concreta) e a Encarnação do Evangelho (a presença de Deus). Devemos ter muito respeito, sabedoria diante deste ambiente. Muitas vezes impomos, destruímos sinais bonitos da vivência do Reino de Justiça. Isso acontece com padres chegam nas comunidades e também com lideranças. É importante respeitar o processo de caminhada do povo.

      Algumas características desta espiritualidade: A valorização da Palavra de Deus (Ilumina a vida, faz ver os problemas e desafia); A Profecia (comprometida com a justiça do Reino, não permite as injustiças); Libertadora e Transformadora (faz abrir os olhos, tomar consciência e enfrentar todas as formas de injustiças); Prática Ecumênica (cultiva o diálogo, respeita, reconhece e valoriza outras formas de expressar a fé); Martirial ( fonte de encorajamento para as comunidades, principalmente nas perseguições, nas dificuldades, é fonte de energia, de vida) e por fim a Proximidade (estar no ambiente das pessoas, sentir a vida no cotidiano, num clima de partilha).

      Pe. Ireneu Stertz, mais num tom de partilha, lembrou as quatro colunas das primeiras comunidades, realidade iluminadora para o hoje das nossas pequenas comunidades. São elas: O Ensino dos Apóstolos (precisamos nos firmar no conteúdo da fé, a catequese, a formação é fundamental. É algo para toda a vida); A Comunhão (partilha dos bens, não ser comunidade sozinho, criar laços, uma só alma); A Eucaristia (a fração do pão, não tinha templos, era celebrada nas casas, pequenos grupos) e por fim, a Oração (se reuniam na oração, na escuta, o cultivo dos sentimentos de Deus, rezar o fazer no Espírito do Senhor).

      Antes de concluir este pentecostes na vida das lideranças, na missa presidida pelo Arcebispo Dom Hélio Adelar Rubert, ainda foi tornado público os compromissos assumidos neste encontro. São eles resumidamente: 1 – Junto às comunidades, padres, lideranças, jovens assumir uma prática de visitação, com bênção das casas, numa formação constante; 2 – Criar, propor ao Legislativo projeto lei visando cuidar da natureza, da ecologia. Já tem grupo organizado para isto; 3 – organizar e fortalecer os grupos de casa como espaço de evangelização, com o envolvimento dos jovens; 4 – Renovar o Ardor Missionário, indo ao encontro daqueles que não estão no dia a dia das nossas comunidades; 5 – Em Santa Maria, rearticular o Conselho de Pastoral da cidade como organismo de articulação, priorizando: a juventude, celebrações da Palavra e Eucaristia nas comunidades, provocando iniciativas para chegar aos núcleos habitacionais.

      O próximo encontro a ser realizado em 2015, tem como lugar a Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Restinga Sêca. Deus nos surpreende diariamente, estejamos abertos ao seu Espírito. “Não deixe morrer a profecia”. Dom Helder Câmara.

 

                        Equipe de Articulação da CEBs

                           Pe. Jair de Bairros Gomes